Cobaias no Ensino
A VIVISSECÇÃO NO ENSINO
Começando pela lei dos crimes ambientais, Lei Federal 9605/98 que diz:
Art. 32 – Praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.Pena: detenção, de 3 meses a um ano, e multa.
Parágrafo 1º – Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
Isso diz tanto, mas porque ainda tem tantas pessoas que relutam a usar métodos alternativos que já existem e poupariam a vida de milhões de animais no mundo inteiro?
INTRODUÇÃO
“Quando se retira a necessidade de um ‘mal necessário’ só o que resta é o mal.”
Lawrence A. Hansen, prof. de Patologia e Neurociências da Universidade da CA)
O cãozinho é trazido do canil e chega faceiro; caminha até o grupo de alunos de medicina e lambe as pernas de um deles. O clima na sala fica pesado e ninguém quer anestesiar e cortar o bichinho. Alguns estudantes, constrangidos, ameaçam ir embora, outros agem normalmente, pois faz parte do aprendizado. Foi assim ao longo de séculos e assim será…
“Sempre foi assim!” – este é o jargão utilizado por muitos docentes que aprenderam dessa forma e replicam a tradição, sem qualquer questionamento. É como um “vale-tudo” em nome do aprendizado.
E a ética como fica??
“O erro da ética até o momento tem sido a crença de que só se deva aplicá-la em relação aos homens.”
Dr. Albert Schweitzer , ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1992.
Muitos cientistas falam que não é impingido aos animais qualquer sofrimento, porém o fato de viverem dentro de um laboratório, privados da liberdade própria da sua espécie, com substâncias em seu corpo, submetidos a procedimentos com ou sem anestesia, é um verdadeiro martírio para eles ou para qualquer ser humano que possa, por um instante, se colocar no lugar destes animais. Mortes inúteis, sofrimento inútil, por quê? Práticas que datam dos primórdios da medicina, obsoletas e fundamentalmente cruéis, dispondo de vidas que não nos pertencem, vidas que sentem medo, dor…
POR QUE AINDA SE PRATICA A VIVISSECÇÃO NO ENSINO, NO BRASIL?
Por falta de opções que a substituam, com vantagem, é que não é.
O repertório de alternativas, nesta era de tecnologia da informação e infinitos recursos, é quase inesgotável. Não existe área de estudo, nas ciências biológicas que não esteja coberta por métodos substitutivos. Por falta de exemplos da eficiência desses métodos, também não.
As maiores universidades do mundo, as mais prestigiadas, já aboliram o uso de animais vivos no ensino.
Estudantes em toda a parte do mundo, preferem a ausência de conflitos éticos que provoca a vivissecção, e aprendem melhor e mais rapidamente sem ela.
Por proporcionar um tipo melhor de ensino, tampouco.
Por ser mais barato o uso de animais? Não.
Por ser mais simpática e agradável aos estudantes e alunos a prática, tampouco.
Seria pela força do hábito, pelo “sempre se fez assim”. Pelo fazer sem pensar?
Pela falta de iniciativa e de coragem de quebrar velhos paradigmas.
Pelo receio de admitir o que existe de melhor em nossa interioridade – a sensibilidade, a compaixão, empatia por tudo que vive, o respeito a todos os seres vivos, o receio de parecer ridículo e não científico ao ousar questionar métodos antigos e enraizados.
Pela simples desinformação, por não saber o que está acontecendo no resto do mundo, os recursos extraordinários da tecnologia que se oferecem, permitindo a instauração de um novo método de ensino, ensino ético.
QUEM JÁ MUDOU PARA MELHOR:
Nos EUA, nas escolas de medicina, somente oito cursos dos 154, ainda usam animais vivos. Tornou-se norma no ensino médico abolir o uso de animais.
As que já aboliram são famosíssimas e prestigiadas: Yale, Harvard, Mayo, Stanford, Duke e Cornell. Os nove novos cursos de medicina abertos de 2007 a 2009 estabeleceram currículos sem o uso de cobaias vivas.
A Faculdade de Medicina da Universidade de British Columbia, no Canadá, anunciou que não utilizará mais animais vivos no currículo de ensino. Era a última das universidades deste país que ainda o fazia.
Na Itália, a lei só permite o uso de animais quando não existirem métodos alternativos, e garante o direito á opção a todos os estudantes, obrigando as universidades a oferecê-los. E eles existem.
Com isso, 109 faculdades italianas (Medicina, Biologia, Farmácia e Medicina Veterinária) acabaram com o uso de animais vivos para todos os fins didáticos. E todas estão vivienciando o sucesso do uso de métodos alternativos, sendo estes mais econômicos e modernos.
A universidade de Tromso na Noruega e fica na maior cidade do país, aboliu definitivamente a vivissecção ainda em 2005.
Há muitos anos, todas as seis faculdades de veterinária do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) adotam métodos alternativos. Ao invés de praticar habilidades cirúrgicas em cães e outros animais, os alunos aprendem auxiliando cirurgias em pacientes reais em hospitais, da mesma forma que a medicina humana. Algumas mudanças aconteceram depois que os alunos, como último recurso, impetraram ações legais.
Estes são alguns exemplos em países de primeiro mundo.
E no Brasil?
A Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) tornou-se pioneira sendo a primeira universidade brasileira a banir o uso de animais vivos em todos os seus cursos. Conquista essa devido á atuação de um membro do Ministério Público que pactuou um TAC – Termo de Ajustamento de Conduta – para que se cumprisse a lei brasileira mencionada no início deste texto, isto em 2006. Depois de longas reuniões, a universidade concordou e desativou o canil mantido para o fornecimento de animais para as aulas práticas.
A medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ensina sem usar animais. Não estamos falando de uma instituição qualquer, fundada há 111 anos, a Famed é considerada a melhor faculdade de medicina do país. Passados dois anos, a medida tem total aprovação de alunos e professores, que garantem não haver nenhum prejuízo para o aprendizado.
Em agosto de 2007 a Faculdade de Medicina do ABC proibiu o uso de qualquer animal vivo nas aulas de graduação.
Há cerca de 20 anos o curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco não utiliza mais animais vivos no ensino. Métodos alternativos foram adotados com pleno êxito.
O departamento de Medicina Veterinária PUC do Paraná não utiliza animais vivos para o ensino desde 2002.
Desde 2000 a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP subsituiu a vivissecção por uma técnica inovadora. Eles conservam cadáveres de cães e gatos que morreram de causas naturais doados pelo Hospital Veterinário de FMVZ e são utilizados em várias técnicas durante as aulas. São mantidos com solução de Larssen, podendo ser congelado e utilizado descongelado por até oito vezes, ou seja, um semestre letivo inteiro.
Antes eram sacrificados cerca de 440 cães saudáveis por ano para que o aluno pudesse treinar sua destreza cirúrgica. Hoje utilizam somente 40, sendo que todos já estavam mortos quando chegam até os alunos.
O curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte) recebeu até prêmio por sua atitude humana e moderna abolindo de suas aulas práticas métodos invasivos que martirizavam animais e alunos. Destacou-se por promover junto ao corpo docente e discente esta consciência.
Outras faculdades de destaque são: Universidade de Brasília,Veterinária da USP e Universidade Federal de SP.
Muitos alunos treinam técnicas cirúrgicas em programas de castração de animais em parceria com entidades protetoras e prefeituras.
Se em seu Código de Ética Profissional do Médico Veterinário estipula no art. 4 que no exercício da profissão o médico veterinário deve utilizar procedimentos humanitários para evitar o sofrimento e dor aos animais (…) em torno da crença que cada ser tem seu valor intrínseco e deveria ser respeitado e protegido, como aprender sendo frios e desumanos?
O uso de métodos alternativos comprovadamente diminui o estresse do aluno que aprende melhor e mais tranquilo. A aceitação entre os alunos é alta.
Ao respeitar as leis, ter um olhar social e realizar um ensino moderno e humanizado, quem sai ganhando são as universidades, mas principalmente os profissionais de amanhã.
Matar para aprender não pode ser positivo. E não é justificável se existem alternativas eficientes.
Os estudantes cuja consciência não concorda com práticas de vivissecção e discordem dela em particular, não devem se sentir desconfortáveis ou ridículos no curso que escolheram. Demonstram isso que se credenciam a ser melhores profissionais da área biomédica, porque não abdicaram da sensibilidade e da compaixão essenciais a quem vi trabalhar com as ciências da vida.
Além disso, evidenciam um critério ético superior, de respeito aos animais, não colocando sua dor e direito de existência e não-sofrimento acima dos interesses humanos.
Se professores e instituições não acolherem seus pedidos de aquisição de conteúdos mediante práticas alternativas, todo estudante deve valer-se da proteção legal que a Constituição Brasileira lhe confere, de ver respeitada sua convicção e garantido seu direito de estudar e graduar-se no curso que escolheu sem ter que matar para aprender.
A Constituição Federal garante em seu artigo 5º:
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se da obrigação legal a todos impostos e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
O QUE SÃO MÉTODOS ALTERNATIVOS?
Os recursos alternativos ao uso de animais vivos no ensino se contam aos milhares, e cobrem todas as áreas de ensino de ciências médicas e biológicas.
- Simulações computadorizadas: programas de computador extremamente sofisticados reproduzem a anatomia de humanos e animais e o metabolismo destes organismos.
- Vídeos: além de anatomia, fisiologia e cirurgias, mostram animais em seu habitat natural, interações e repertório patológico.
- Peças anatômicas e cadáveres conservados: métodos que conservam e permitem utilizar por longo tempo cadáveres e órgãos de procedência ética com aparência e flexibilidades perfeitas.
- Métodos de silicone e outros materiais: incluem modelos animais sofisticados com sistema vascular, ósseo, sangue, membros humanos para suturas, etc.
- Prática clínica e cirúrgica: proporcionam conhecimento real de anatomia e fisiologia ao assistirem cirurgias humanas e animais.
- Auto-experimentação
- Métodos in vitro
PESQUISE NA INTERNET:
“O ESTUDANTE QUE SE RECUSA A PARTICIPAR DE ATIVIDADE CRUEL PARA OS ANIMAIS DEVE SER ENCORAJADO E NÃO DESESTIMULADO. COMPAIXÃO É MUITO MAIS DIFÍCIL ENSINAR DO QUE ANATOMIA.”
Dr. Neal Barnard, Presidente do Physicians Comittee for Responsible Medicine